quinta-feira, 22 de março de 2012

o mecânico e o sapateiro


pro Crispim

na primeira esbarrada, eu encrespei:
- minha mãe não é mascate!

e ele, imortal:
- sua casa deve ter um quintal bem grande, né?
- ué! porquê?
- você deve ter deixado a educação lá no fundo...

a encarada me conquistou

seu nome?
nem tinha idéia
o meu, ele sabia
(ele sempre foi mais sábio,
eu era só mais sabido...)

nossa primeira parceria foi:
Marreco, Antero e Amauri
Tuti, Gonçalves e Eca
Tim, Tidão, Tonho Rosa, Luizinho Rosa e Canhotinho

ele me mostrou o Canhotinho
(um velhote acabado)
e me apresentou pra ele

compartilhamos Clarice...

eu, vago e superficial
ele, cerimonial
eu alegre, ele sombrio
eu musicava, ele pintava
(a poesia nos unia)

eu me iludia comigo mesmo
ele não acreditava em si

crescemos, mudamos:

eu cowboy, ele chinês
eu na droga, ele na yoga
eu no chute, ele aikidô
eu surtando, ele estudando
eu bebendo, ele cozinhando

chegou a distância...

um dia: Camila!
clareando a casa
trazendo Felipes e Brunos

de cá, Valéria, Flora, Lara e Lia...

envelhecemos

eu perdi os cabelos, ele não...

mas tenho dois quadros na parede
(um é roubado)
e milhares na memória

quando ele foi pintar na Itália eu escrevi um artigo no jornal

o mais legal é que a história não acaba...


Um comentário:

Amanda Balieiro disse...

Quis chorar!

(estava sedenta dos teus versos)

bjs-fãs

 
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